A Recupeção de Clara
Doutrina Espírita
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NÃO É DEPRESSÃO, NÃO É ANSIEDADE... É OBSESSÃO ESPIRITUAL!
Quando Clara atravessou a porta do pequeno centro espírita naquela noite de terça-feira, não foi por fé. Foi por desespero. O médico já tinha dito que aquilo era “surto psicótico”, o psiquiatra aumentara a dose dos remédios, a família sussurrava “loucura” pelos cantos. Mas só ela sabia o que era viver com vozes que não se calavam, sombras que a seguiam e um peso constante dizendo ao seu ouvido: “Você não presta. Você nunca vai mudar.”
Tinha 33 anos, um passado que preferia esconder e uma culpa que parecia não ter fundo. Bebidas, relacionamentos marcados por traições, pequenos golpes, gente magoada pelo caminho. Cada rosto ferido que deixara para trás agora parecia ter ganhado forma ao seu redor. À noite, sentia presenças que a arranhavam por dentro, sussurrando lembranças específicas: o dinheiro que desviou, a amizade que destruiu, o filho que não quis. Quanto mais tentava esquecer, mais essas vozes a esmagavam. Já não dormia, não comia direito, não conseguia trabalhar. Queria sumir. E, no fundo, acreditava que nem Deus queria saber dela.
Foi a tia quem insistiu: “Vai na reunião de hoje, filha. Não é milagre fácil, é tratamento. Pelo menos tenta.” Clara entrou desconfiada. O salão era simples: cadeiras de plástico, uma mesa de madeira, flores num copo de vidro. Nada lembrava as imagens grandiosas que ela tinha de “milagres”. Sentou-se no fundo, pronta para sair correndo se sentisse qualquer coisa estranha demais.
O expositor da noite era um senhor magro, de cabelos grisalhos e olhar tranquilo. Falava de Jesus, mas de um jeito diferente. Dizia que Ele não vinha “passar a mão na cabeça”, mas acordar espíritos adormecidos em séculos de erro, como quem tira alguém de um túmulo escuro. Explicava que nada daquilo acontecia sem permissão divina, que Deus não abandonava ninguém, apenas permitia certas provas para que a alma despertasse. Clara se encolheu na cadeira. A sensação de que ele estava falando dela era quase física.
“Às vezes”, ele dizia, “o que chamamos de ‘demônios’ são, na verdade, irmãos nossos, feridos por nós ou ferindo junto conosco ao longo de muitas vidas. A Providência, na sua sabedoria, permite que se aproximem, não para nos condenar para sempre, mas para que, juntos, possamos curar feridas antigas. E quando Jesus entra de verdade em uma alma, não afasta só obsessores. Ele desfaz, pouco a pouco, a imagem de ‘caso perdido’ que a própria pessoa construiu de si mesma.”
Clara apertou os olhos, tentando conter as lágrimas. Uma voz conhecida, debochada, sussurrou por dentro: “Olha só, até aqui você arrumou jeito de se achar especial. Esse papo não é pra você. Você já passou do ponto.” Outra, mais áspera, completou: “Se eles soubessem de tudo que você fez, mandavam você levantar e ir embora.”
Foi então que algo diferente aconteceu.
Enquanto o senhor falava, uma jovem médium que estava sentada ao lado da mesa começou a chorar silenciosamente. Respirou fundo, fechou os olhos com mais firmeza, como quem escuta algo de longe. O dirigente da casa, experiente, percebeu e pediu que ela permanecesse em prece. O clima no salão mudou; o ar pareceu ficar mais denso e, ao mesmo tempo, mais suave.
A médium ergueu devagar a cabeça, ainda de olhos fechados, e começou a falar com uma voz que não era exatamente a dela — mais firme, mais doce, mais segura:
“Meus amigos, venho atraída pela simpatia que guardo por aqueles que desejam ouvir sobre Jesus e se aproximar d’Ele. Hoje, peço licença para falar de perto ao coração de uma filha que acredita ser irrecuperável.”
Clara gelou. Sentiu como se alguém apontasse diretamente para o seu peito.
“Filha, eu sei como é ter a mente tomada por fantasmas do passado, ouvir vozes que acusam, ser apontada como desonrada e perder a própria dignidade aos olhos do mundo e aos próprios olhos. Também fui cercada por espíritos que se alimentavam da minha culpa. Também me vi como caso perdido, até que, por permissão divina, um dia Jesus me chamou pelo nome e, em vez de me atirar pedras, me ofereceu um olhar que dizia: ‘Levanta e vem comigo.’”
A médium fez uma breve pausa. O salão inteiro prendia a respiração.
“Naquele tempo chamaram de milagre. Eu sei hoje que foi mais do que isso: foi o despertar de um espírito cansado de errar. O Cristo não mudou o meu passado com um gesto de mágica. O que Ele fez, sob a vontade amorosa de Deus, foi acender uma vontade nova dentro de mim, tão forte, que as correntes antigas começaram a se desfazer. As vozes que me atormentavam ainda tentaram ficar. Algumas gritaram mais alto. Mas outra voz passou a ecoar, doce e firme: ‘Você não é o que fez. Você é o que está disposta a ser comigo a partir de agora.’”
Clara começou a tremer. As vozes dentro dela se agitaram, irritadas.
“Não escuta isso. Ele não está falando de você. Você é diferente. Você sabe do que é capaz…”
Mas, pela primeira vez, havia outra sensação misturada: um calor discreto, como se alguém encostasse a mão em suas costas e dissesse, baixinho: “Fica. Só mais um pouco. Ouve até o fim.”
“Filha”, continuava a entidade através da médium, “as faculdades da alma que hoje te torturam — a sensibilidade, a mediunidade descontrolada, a memória que não para de te exibir erros — podem, conduzidas a Deus, se tornar instrumentos de cura, não de sofrimento. Um dia, aprendi a reconhecer a voz do meu anjo guardião em meio ao tumulto de vozes sombrias. Aos poucos, a que me lembrava o amor de Jesus foi se tornando mais forte do que as que pediam vingança ou desistência. Não aconteceu em um passe de mágica. Aconteceu em lágrimas, quedas, recomeços, preces repetidas, atitudes diferentes a cada dia.”
Clara, sem perceber, levou as mãos ao rosto e começou a chorar abertamente. Sentiu, dentro de si, um movimento estranho: como se algumas daquelas presenças que a cercavam recuassem, irritadas com aquela luz que tentava entrar; outras, porém, pareciam se aproximar com curiosidade, como se também estivessem ouvindo algo novo.
“Tu achas que todas as vozes que te perseguem são inimigos inflexíveis. Mas escuta: muitos deles são apenas corações feridos que você mesma feriu. A Justiça de Deus é suave e firme; permite a aproximação para que, pouco a pouco, também encontrem o caminho. Quando Jesus me resgatou do meu ‘túmulo’, não foi só a mim que tirou. Comigo, muitos dos que me seguiam nas trevas começaram a enxergar uma fresta de luz.”
O dirigente, atento, pediu mentalmente que a comunicação fosse protegida. O silêncio no salão ganhou um peso novo, quase sagrado.
“Filha, pergunta a si mesma: realmente desejas seguir Jesus ou apenas fugir da tua dor? Se a resposta sincera for ‘eu quero aprender a amar, mesmo que doa’, então hoje, aqui, agora, sob a permissão divina, a mesma mão que um dia segurou a minha se estende para ti. Não para te livrar de todas as consequências, mas para acordar em ti a mulher nova, o espírito que dorme sob os teus próprios erros há séculos.”
Clara, num impulso, murmurou baixinho, quase sem voz:
“Mas… por que eu? Por que alguém como eu?”
A resposta veio imediata, como se a entidade tivesse ouvido o pensamento:
“Porque foste tu quem pediu diante de Deus.”
Um arrepio percorreu sua coluna. Fragmentos de um sonho antigo, esquecido, voltaram à mente. Numa noite de sufoco, anos antes, em um quarto sujo, cercada de garrafas, ela tinha chorado até perder o fôlego e dito algo como: “Se existir alguém aí em cima, por favor, me tira daqui. Nem que seja quando eu morrer.” Na época, achou que ninguém tinha escutado.
“Antes de renascer, quando viste o rastro que deixara para trás em outras vidas”, continuou a voz, “suplicaste ao Pai por uma encarnação em que tivesses a chance de, enfim, olhar para Jesus não como juiz distante, mas como médico de almas. Pediste para que tua mediunidade, que antes te arrastou para abismos, fosse agora ferramenta de trabalho para o bem. Rogaste, inclusive, que os corações que feriste pudessem se aproximar, para que, com a mesma permissão divina, juntos encontrásseis um novo caminho.”
Clara arregalou os olhos. As presenças ao seu redor pareciam estremecer. Uma delas, mais agressiva, gritou por dentro: “Mentira! Ela nunca pediu nada! Ela é nossa! Ela nos pertence!” Mas, por trás desse grito, outras vozes, enfraquecidas, sussurravam: “E se for verdade? E se também existir saída para nós diante de Deus?”
A entidade prosseguiu, firme:
“Hoje, aqui, não é só a tua libertação que está em jogo. Muitos dos que te perseguem estão sentados à tua volta, invisíveis para olhos cansados, mas chorando por dentro. Uns querem te ver cair. Outros, sem admitir, torcem para que consigas te erguer, porque só saberão sair das sombras quando enxergarem, em ti, a prova viva de que é possível recomeçar com Jesus.”
O expositor segurava os olhos marejados, acompanhando em silêncio.
“Se quiseres, filha, levanta-te hoje desse túmulo interior onde te deitaste. Não te iludas: as lutas vão continuar. Haverá recaídas, dias em que as vozes voltarão mais fortes, memórias que tentarão te puxar. Mas, se escolheres caminhar com Deus, cada vez que caíres voltarás a ouvir, lá no fundo: ‘Eu não te condeno. Vai e não tornes a errar.’ E essa frase, repetida mil vezes, acabará por calar o coro de acusações.”
Clara, soluçando, apertou as mãos contra o peito.
“Eu… eu quero”, murmurou, sem se importar mais se alguém ouviria. “Eu quero isso. Mesmo que doa. Mesmo com medo. Eu não aguento mais ser quem eu fui.”
Um calor suave tomou conta do seu corpo. A sensação das presenças opressoras se alterou. Algumas pareciam ser afastadas por uma força que ela não conhecia. Outras, porém, ficaram, mas já não como garras cravadas — mais como figuras confusas, em pé, à distância, observando.
A voz, doce e firme, concluiu:
“Então entrega-te a Deus com sinceridade. Não é nos grandes templos nem nos grandes gestos que tua ressurreição íntima vai acontecer. Será no pequeno esforço de cada manhã: na garrafa que não abres, na mentira que escolhes não contar, no pedido de perdão engolindo orgulho, na prece sussurrada quando a vontade é gritar. E, sobretudo, no serviço humilde, quando começares a usar aquilo que hoje te atormenta para amparar outros que sentem o mesmo. Um dia, descobrirás que as vozes que te acusavam se transformaram em vozes que agradecem. E entenderás, enfim, que a maior cura que Jesus te oferece não é arrancar-te das mãos dos teus obsessores… é transformar obsessores e obsediada em companheiros de jornada, sob o olhar misericordioso do Pai.”
O ambiente foi voltando ao normal. A médium, exausta, abriu os olhos, sem lembrar exatamente das palavras. O dirigente fez uma breve prece, agradecendo a Deus. Encerraram a reunião com simplicidade. As pessoas começaram a sair, comentando baixinho a mensagem.
Clara ficou sentada, sem conseguir se levantar. Não sabia explicar, mas algo dentro dela havia mudado de lugar. As vozes ainda estavam ali, sim, mas pareciam… menores. Como se outra, mais profunda, tivesse finalmente começado a falar.
Ao se aproximar dela, a tia perguntou:
“Você tá bem, filha?”
Clara respirou fundo.
“Não”, respondeu, sincera. “Mas eu acho que, pela primeira vez, eu posso ficar. Deus me trouxe até aqui por algum motivo.”
Nos meses seguintes, o processo não foi mágico. Teve crise, teve vontade de desistir, teve dia em que xingou o céu inteiro. Mas também teve pequenos sinais da misericórdia divina: a noite em que, em vez de beber, foi para a reunião de desobsessão e saiu mais leve; a primeira vez que admitiu publicamente um erro e pediu perdão; o dia em que conseguiu ouvir, em meio ao tumulto mental, uma frase clara, como um sussurro amigo: “Calma. Respira. Eu estou aqui”, e soube, sem ver, que vinha de Jesus por meio do seu anjo guardião.
Anos depois, já trabalhando como médium esclarecedora na mesma casa, Clara escutava, do outro lado da mesa, um espírito revoltado gritar através de um comunicante: “Ela me destruiu! Ela acabou com a minha vida! Eu quero que ela sofra tudo o que eu sofri!” As palavras eram assustadoramente parecidas com as que um dia ecoaram dentro dela.
O dirigente olhou para Clara, como quem dizia: “Consegue falar com ele?” Ela engoliu seco, fez uma prece rápida e, com a voz firme que um dia não teve, respondeu ao irmão em sofrimento:
“Eu sei como é se sentir assim. Eu também já quis que alguém pagasse centavo por centavo o que fez comigo. Mas hoje eu entendo que, se Deus tivesse feito isso comigo, eu nunca estaria sentada aqui, tentando te ouvir. Você não precisa acreditar em mim agora. Só guarda uma coisa: se Jesus foi capaz de vir me buscar no buraco onde eu estava, também é capaz de te tirar desse lugar quando você cansar de odiar.”
O espírito, através do médium, silenciou por alguns segundos. Depois, murmurou, desconfiado:
“Ele… veio te buscar?”
Clara sorriu, com lágrimas nos olhos.
“Veio. E, por permissão divina, usou justamente a mediunidade que me atormentava para isso. Aquilo que parecia minha maldição virou trabalho. A cadeia que me prendia virou caminho.”
O atendimento terminou em relativa calma. Ao final da reunião, enquanto guardavam as cadeiras, o dirigente se aproximou, curioso:
“Você falou com tanta convicção… parecia até lembrança antiga.”
Clara olhou para o salão simples, as flores no copo de vidro, a mesa de madeira. Pensou na primeira noite em que entrou ali querendo fugir do mundo e encontrou, em vez de condenação, um chamado à vida.
“Talvez seja mesmo”, respondeu. “Não de datas e cenários, mas lembrança do que Deus pode fazer quando a gente finalmente deixa Jesus entrar.”
O dirigente ia comentar algo, mas foi interrompido pela chegada de uma senhora nova na casa, trêmula, dizendo que ouvia vozes horríveis e não sabia mais o que fazer. Clara se aproximou dela com um sorriso que misturava compaixão e reconhecimento.
“Vem”, disse, com doçura. “Senta aqui. Deixa a gente te ouvir. Quem sabe hoje não começa a tua história também?”
Naquele instante, enquanto as duas se acomodavam no mesmo salão simples, algo se fez claro, sem alarde: o “milagre” que Clara esperava não tinha sido ser livrada de toda dor, mas receber, de Deus, a chance de transformar a própria queda em serviço. E perceber que a mesma mão de Jesus que um dia a ergueu continuava ali, agora sustentando também aqueles que, antes, só sabiam acusá-la.
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