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    O Inevitável Despertar - Apostila 9

    O Inevitável Despertar - Apostila 8

     

     

     O Que as Crises nos Anunciam - II

     

     

     

    Vimos na apostila 08 que os acontecimentos que precedem o completo despertamento consciencial têm a característica daqueles dias em que nuvens pesadas obumbram o horizonte da cidade, deixando a população apreensiva.   É verdade, é uma densa realidade, obscurecendo o despreocupar de antes.

    Rememorando as anotações anteriores, que daremos prosseguimento nesta, dizíamos que quando a pessoa se encontra nesse estágio de confusão, sua tendência é a de fugir de si mesmo.   Assim sendo, ensina-nos Assagioli, é comum que “(...)se atire, com ardor crescente, numa girândola de atividades externas, buscando novas ocupações, novos estímulos e novas sensações.  (Grifos nossos).

    Por nossa vez, concordando plenamente com Assagioli, podemos dizer que diante de mudanças tão bruscas, como se o chão estivesse a fugir de debaixo de nossos pés, não poderia ser de outra forma que a pessoa se sinta e comporte.

    Seja do que queira se livrar, (seus pensamentos até o momento ainda são confusos), e apesar de seus esforços nesse sentido, aquela tumultuada nova maneira de pensar continua lhe seguindo, como um cãozinho fiel.   Mais do que isso, como sua própria sombra.

     

     

    Não mais poderá ser de outra forma, afinal, ali está seu EU-maior a insuflar os ventos da nova visão.   Como, pois, livrar-se dele ?   Impossível !!!  Mas embora ocorram períodos de calmaria, “O problema continua a fermentar nas profundezas de seu ser, solapando as bases de sua existência comum, até poder irromper novamente, talvez depois de um longo tempo, com intensidade redobrada.”

     

     

    Na figura 09C damos uma idéia do que possa estar acontecendo nas profundezas do Ser, conforme ensina Assagioli.  No primeiro quadro, nos períodos de intermitência entre as crises, embora  pareça que as coisas voltaram ao antigo “normal”, na verdade, no âmago do Ser, há uma fermentação em curso.  Assim como os vulcões ditos adormecidos.  De suas crateras exalam apenas ralas fumaças.  Essas, porém, anunciam que a lava incandescente está sendo cozida nas entranhas da Terra, e que, a qualquer instante,  poderá ser lançada à superfície.  Neste estágio, entretanto, a pessoa consegue manter-se em padrões satisfatórios de convivência social.  Mas a fermentação é crescente, pois, como dissemos na apostila 08, iniciado o processo de despertamento consciencial, nada mais detém seu prosseguimento.

    Desta forma, quadro dois, num inesperado momento, as “tampas do porão da  consciência”  se  rompem abruptamente e daquelas profundezas irrompem as labaredas de uma nova crise.   A pessoa se sente mais  confusa, sua cabeça parece que gira descontroladamente,  e tem a impressão de que  “treme” toda como a se desdobrar em várias outras.

    “O estado de incômodo e de agitação vai ficando cada vez mais doloroso e a sensação de vazio interior ainda mais intolerável.  (...) boa parte do que constituía a sua vida agora lhe parece desaparecido como um sonho, sem que nenhuma nova luz tenha aparecido.  Na verdade, ele ainda ignora a existência dessa luz, ou então não pode acreditar que ela venha a iluminá-lo.”

     

    Em nossa convivência nos trabalhos assistenciais temos visto pessoas que mergulhadas nesses estados de confusão mental clamam, temendo perder o que na vida até então construíram:  cônjuge, filhos, cultura, bens materiais, etc.  Descrevem as sensações que vivenciam contando que têm a impressão de que estão sendo violentamente arrancadas de suas posses, e pedem, dramaticamente, que as ajudemos a reintegrá-las no antigo modo de vida que possuíam.

    Como resposta procuramos acalmá-las, esclarecendo-as sobre as razões do que lhes acontece, e da existência dessa luz” que por mais um pouco as estará iluminando,  para nelas, assim, revivesser a confiança em si próprias.  Naturalmente que são medidas difíceis de serem assimiladas pelo contundido, pois a pessoa está confusa e derrotada perante a vida, todavia, depois de algum tempo, sempre se obtém resultados satisfatórios.

    Ilustrando um pouco mais esse estado de extrema inquietude e desconfiança, Assagioli esclarece:   “É freqüente que esse estado de agitação interior seja acompanhado por uma crise moral.  Sua consciência dos valores se enfraquece ou se torna mais sensível: (...)  Ele julga a si mesmo com severidade e é presa fácil de um profundo desânimo, chegando a ponto de pensar em suicídio.”

    Exatamente o que dizíamos acima.  O sentimento de perda e o afastamento de todos aqueles bens que lhe constituíam a base da vida, deixam a pessoa sob forte sensação de imponderabilidade.  Um vazio, assustador !!!  Nada mais lhe pertence, pensa.   Não sou mais a mesma pessoa, grita para si mesmo.  A própria vida é uma total incongruência.  Por quê, então, continuar vivendo  ?!  O suicídio se desenha em sua mente como atraente alternativa.

     

     

    Quando a crise atinge esse ápice significa que a pessoa atingiu o momento crítico do despertamento.   É a hora do confronto com a grande encruzilhada.  (Figura 09D)  Mas decidir como, se ela é a confusão personificada?  Por si mesma será difícil.  Precisará de orientação sensata, segura, honesta e desinteressada, a indicar-lhe o caminho certo.

    Destacamos que nesta fase da crise interior é importante incentivar a pessoa a aceitar, consciente e racionalmente, a causação de seu infortúnio.   Essa aceitação, deixemos bem claro, não é uma capitulação acovardada diante dos fatos, ao contrário, é o submeter-se à seqüência de uma vivência em estágio mais avançado.   Além disso, deve-se reportar à pessoa sobre os inderrogáveis degraus evolutivos que todo ser percorre, e que seu quadro evidencia que ela está prestes a dar um salto ao degrau superior.  Que ela vive uma etapa de acesso à visão mais ampla, comum a todo médium, e perfeitamente possível de vivê-la em harmonia.

    Também destacamos que dirigentes e integrantes de núcleos assistenciais espiritualistas devem ter especial atenção para as notas acima transcritas, pois elas revelam a dramaticidade que as pessoas, nesses estados, vivem, e que por isso, aos centros assistenciais, elas recorrem.

    Trazendo informações adicionais, Assagioli acrescenta:  “É importante reconhecer que essas várias manifestações de crise muito se assemelham a alguns dos sintomas tidos como característicos de estados neuróticos e de estados psicóticos fronteiriços.  Em alguns casos, a tensão e a pressão da crise também produzem sintomas físicos como tensão nervosa, insônia e outros distúrbios psicossomáticos.”

    Vejamos, com nossa interpretação, o significado das palavras de Assagioli.   Mais acima o ilustre médico falou de estados tipicamente em que a pessoa mergulha em confusões de objetividade.  Neste último trecho fala sobre semelhanças, dizendo que os comportamentos das pessoas vivenciando tais crises podem se equiparar aos estados neuróticos e, ou muito próximos dos psicóticos.  Ele usou os termos estados neuróticos e estados psicóticos fronteiriços.

     

    Podemos informar que estados neuróticos são aqueles em que a pessoa reconhece em si um caráter patológico, que lhe causa os sintomas de angústia, medos, obsessões e certas inibições, como síndrome do pânico, sem contudo lhe impor afastamento de seus deveres sociais.

    O psicótico, entretanto, está incluído naquele tipo de pessoa que sofre grandes processos da chamada desintegração da personalidade, desajustando-o e impedindo-o de um viver “normal”.  (Figura 09E).

     

    Esse processo desintegrativo é aquele em que a pessoa, perdendo seu senso de localização e identidade, se auto-denomina algum tipo de herói, missionário místico ou político, nos casos mais brandos.   Mas há, também, os casos violentos nos quais a pessoa comete atos hediondos.

    Pois bem, Assagioli adverte para o fato de que em algumas crises de despertamento espiritual a pessoa possa vir a apresentar comportamento semelhante às categorias acima assinaladas, mas que, contudo, na realidade, não será justo classificá-las assim, pela simples razão de que elas não são neuróticas e nem psicóticas.

    Além dos estados comportamentais descritos, ele diz que em determinadas etapas da crise os distúrbios rompem a fronteira psicofísica e se manifestam no organismo humano, das formas que ele lista como insônia, tensão nervosa, etc.  Nós acrescentaríamos:  perda de apetite, ou apetite compulsivo;  desinteresse sexual, ou compulsão sexual;  paralisia parcial de membros e até feridas que, sem causa definida irrompem na pele.   Já vimos muito disso.

    Quando, entretanto, a situação declaradamente extravasa dos sintomas puramente psíquicos, transpondo os seus efeitos para os órgãos físicos, significa que o equilíbrio psíquico daquela pessoa está pendente só por um delicado fio, prestes a romper.  (Figura 09F) –  Denotam que as resistências interiores estão esfaceladas, e perdendo o domínio sobre o corpo físico que, excessivamente tensionado, começa a dar sinais de fadiga.

     Neste caso, a pessoa apresenta comportamentos variados.  Num momento é ela mesma, tal qual sempre se comportou, noutro momento se mostra inteiramente diferente, tanto nos gostos quanto nas palavras e nos atos.  Praticamente poder-se-ia dizer que é uma outra pessoa.

    Hermínio Correa de Miranda, emérito pesquisador no campo da doutrina Espírita e do psiquismo, no seu livro Condomínio Espiritual, editado pela Editora Folha Espírita, cita observação atribuída a Théodore Flournoy que denomina de clivagem  a esses estados de fracionamento da personalidade, comparando-o aos processos de lapidação de cristais.  (página 41).

    Obviamente que cuidados urgentes serão necessários para se evitar um agravamento da crise.  Quanto a isso, e com muita propriedade, baseado em sua vasta experiência, Assagioli dá preciosas indicações:   “Portanto, para lidar corretamente com essa situação, é essencial determinar a fonte básica das dificuldades.”

     

    Determinar a fonte básica das dificuldades foi, exatamente, o que dissemos acima quando comentamos sobre os estados neuróticos e psicóticos fronteiriços.   Isto é, identificar o quê, de fato, acontece àquela pessoa em questão.

    Determinada essa fonte básica das crises, o passo seguinte é encaminhar a pessoa para o âmbito da espiritualização – se este for o caso, claro – pois é disso que ela sente falta e anseia.   Como também, quase certo que essas são suas tendências ainda ocultas.   Isso pode ser feito através de uma convivência com grupos assistenciais tanto para o que tange ao seu tratamento direto quanto para participar de estudos.

    De qualquer forma o transcurso dessas fases deve ser acompanhado de atenciosos cuidados, pois algumas repentinas irrupções, como a dos vulcões adormecidos, ainda podem ocorrer.

    Assagioli descreve isso da seguinte maneira:  “Há possíveis complicações: por vezes, essas novas tendências emergentes revivem ou exacerbam conflitos antigos ou latentes entre elementos da personalidade.  Esses conflitos, que seriam por si mesmo regressivos, são na verdade progressivos (...)  Assim sendo, essas crises são preparativos positivos (...)  Elas trazem à superfície elementos da personalidade que precisam ser considerados e modificados (...)”  (Grifos nossos)

    O que Assagioli está instruindo é que, apesar dos pesares, apesar dos indiscutíveis incômodos que essas crises desencadeiam, a crise e os conflitos que provocam o despertamento consciencial são altamente benéficos.   Apesar, paradoxalmente, do dissabor e desconforto de que vêm acompanhadas.

    A crise, portanto, que tinha todo o aspecto de regressiva, ou seja, causar atrasos, danificar psiquicamente a pessoa, é, na realidade, progressiva.  Ela libera dispositivos psíquicos que permitirá à pessoa, tão logo readquira suficiente equilíbrio, entender os valores mais significativos da vida.  

    É a compreensão da existência daquela Luz referida na folha 2, que agora, efetivamente, passadas as crises, sente que a está a iluminar.

    Outro ponto a ressaltar é quando Assagioli faz referência aos “elementos da personalidade que precisam ser considerados”.   Isto se trata do lado oculto que todos os Seres trazem como herança de outras encarnações.   Essa ponderação é extremamente justa e sensata.   Não se pode, jamais, esquecer que estamos incursos na Lei de Causa e Efeito, e que aquelas crises refletem, também, parâmetros corretivos de dita Lei.  Daí, a necessidade não só dos cuidados assistenciais a serem dispensados à pessoa nessas circunstâncias, mas também, como dissemos acima, instá-la ao estudo.   Só através deste ela virá a entender de suas crises como melhor conhecer-se a si mesma.

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    Lendo e relendo os apontamentos de Assagioli, comparando-os aos escritos de Allan Kardec, de Leon Denis, de André Luiz, de Manoel Philomeno de Miranda, de Adolfo Bezerra de Menezes, e tantos outros nomeados em nossa bibliografia, surge-nos uma pergunta:  É inevitável a crise causada pelo Despertar Espiritual ?

    Ponderando sobre o acervo analítico dos mestres acima referidos, a resposta, com segurança, é afirmativa.   A crise é necessária, pois é a única alavanca que consegue mover a criatura, tirando-a da posição estacionária dentro das fronteiras da matéria, e impulsionando-a para o crescimento espiritual.   Portanto, as crises nos anunciam que um novo Ser está nascendo.  

     

    É o grito da parturiente !

     

     

     Bibliografia:
     André Luiz/Francisco Cândido Xavier  Evolução em Dois Mundos – página 39   Federação Espírita Brasileira
     André Luiz/Francisco Cândido Xavier   No Mundo Maior  -  páginas 45, 54 e 58  Federação Espírita Brasileira
     Edith Fiore       Possessão Espiritual    Editora Pensamento
     Eliezer C. Mendes         Psicotranse      Editora Pensamento
     Emmanuel/Francisco Cândido Xavier   Pão Nosso – capítulo 111    Federação Espírita Brasileira
     Enciclopédia Barsa     Volume 15, página 73     Encyclopaedia Britannica
     Itzhak Bentov      À Espreita do Pêndulo Cósmico  Editora Cultrix
     Leopoldo Balduino  Psiquiatria e Mediunismo – página 201  Federação Espírita Brasileira
     Manoel Ph. Miranda/Divaldo P Franco  Painéis da Obsessão – Prefácio  Livraria Espírita Alvorada Editora
     Roberto Assagioli      Psicossíntese    Editora Cultrix
     Stanislav Grof e Christina Grof    Emergência Espiritual   Editora Cultrix
     Vivências   Apostila 13 da série Reconstrução e 37 e 52 da série Mediunidade  

       

    Apostila escrita por

    LUIZ ANTONIO BRASIL

    Agosto de 1997

    Revisão em Novembro de 2005

    Distribuição gratuita citando a fonte

     

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