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Os Animais - 134

Todos Animais São Nossos Irmãos

Marcel Benedeti

Capítulo XVIII - A Carne nutre a carne

De volta a seus lugares, Teresa, que era encarnada e não estava presente quando se discutiu sobre consumir carne de animais para nutrir o corpo, levantou a mão e falou:

- Professor, eu sei que o que vou perguntar está fora do tema que discutíamos antes, mas há algo que me preocupa e gostaria que me orientasse e esclarecesse uma dúvida. 

- O que a incomoda? - Perguntou Derek, atencioso - você parece preocupada realmente. 

 


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- Sim, de fato. Hoje recebi convite para uma festa e fiquei perplexa.

- Mas se é somente uma comemoração, o que poderia chocá-la tanto assim? - Quis saber o professor, que não queria antecipar-se, lendo seus pensamentos.

Ele queria que os outros alunos ouvissem o que a jovem tinha a dizer.

- Acontece que, perto de minha casa, há uma casa espírita que trabalha caridade, distribuindo alimentos à comunidade carente, além de ministrar passes magnéticos um dia por semana e palestras também semanais.

Nessa casa, nos dias de palestra, sempre é solicitado aos ouvintes que contribuam com alimentos que comporão cestas a serem distribuídas a pessoas necessitadas, das comunidades vizinhas.

As contribuições vêm caindo ultimamente, obrigando a casa a complementar as cestas por outros meios.

E é justamente isso o que me preocupa...

A casa, com intenção de prover à deficiência ante a demanda de alimentos, resolveu promover essa festa.

 

Uma churrascada.

 

- Uma churrascada? - Perguntaram, admirados, todos em uníssono.

 

- Isso mesmo. E por isso estou chocada.

Ali funciona uma casa de caridade que pretende seguir os ensinamentos evangélicos.

 

Como podem colaborar com a matança de animais, para a obtenção de fundos para tais cestas de alimentos? - Falou a aluna com visível tristeza.

- E para minha surpresa, ainda servirão bebidas alcoólicas aos participantes da comilança.

 

O que o senhor me diz disso? Não estariam cometendo um ato avesso à caridade, angariando fundos deste modo, mesmo que a intenção seja auxiliar famílias carentes?

 

- Sem dúvida. Não se pode justificar uma matança e o consumo de carne, mesmo que haja intenções nobres, pois com certeza há outros meios menos cruéis de festejar e angariar o numerário desejado.

 

- Mas em relação ao consumo de carne - perguntou Teresa - não seria um mau exemplo à comunidade?

- Sem dúvida. Isso demonstra a despreocupação da direção da casa em difundir a dinâmica da caridade, que deveria incluir os nossos queridos irmãos, nossos tutelados, os animais - concordou o professor.

- Quando lhes perguntei sobre o consumo de carne em tal festa, queria saber se não era algo contra o Evangelho e contra a própria doutrina, eles justificaram que nada consta nos evangelhos que condene seu consumo e nem mesmo na doutrina. Disseram que no Livro dos Espíritos está escrito "a carne nutre a carne". O que quer dizer isto, professor?

 

- Eu diria que se trata de um sinal que não estamos preparados para deixar o consumo de carne animal. Isso ainda demorará para acontecer, mas está lentamente alcançando patamares desejados, mesmo que o cronograma esteja atrasado.

Antes de vocês chegarem, nós discutíamos justamente esse assunto.

Sabemos que as estâncias mais altas estão providenciando circunstâncias, que visam desestimular o consumo de carne de animais que pertençam a grandes "corpos coletivos".

Espera-se que não se queira mais consumir despojos de animais que já possuem uma maior consciência de si.

Quando são consumidos os restos mortais desses que possuem pequenos corpos coletivos, nossa saúde se abala física e emocionalmente e acarretamos débitos para com eles, os animais, que deverão ser quitados, antes que passemos a outra fase evolutiva - explicou o professor.

- De qualquer modo, ainda assim haverá o consumo de carne.

Em minha concepção não deveria mais haver matanças de qualquer tipo.

Até mesmo os animais de grandes "corpos coletivos" serão sacrificados por nós. Não acho justo. - Reclamou Teresa.

 

- Não somos nós a decidir pelo justo ou não. São as próprias pessoas que se alimentam de carne.

 

- Como assim? Não entendi. Se formos deixar por vontade deles, não deixarão de consumir carne.

- Não é exatamente assim. A maioria já está se conscientizando e só não deixou de se alimentar de cadáveres por força do hábito.

Assim que, por um mínimo esforço, deixarem de comer carne, não sentirão necessidade dela. A outra parte precisa de nossa intervenção para lhes frear o consumo excessivo. Para isso já estamos trabalhando.

- Por que ainda será permitida a matança dos componentes dos grandes corpos coletivos como os peixes, por exemplo? Nós sabemos que eles também sentem dor e sofrem durante o abate.

- Sim, mas eles ainda possuem frouxas ligações com seus corpos físicos. Por isso, estão praticamente soltos de seus envoltórios físicos e os abandonam tão rápido, quando são abatidos para o consumo, quanto uma lagartixa abandona sua cauda ante o perigo. Assim, sofrem menos que os irmãos de corpos coletivos menores durante o processo que os levará aos pratos dos humanos.

Não é o ideal ainda, pois o melhor seria se não houvesse mais mortes para nutrir o corpo. No entanto, como seus corpos coletivos são extensos e suas ligações físicas são fracas, eles representam uma opção de transição nos hábitos alimentares.

Essa transição também fará crescer a produção vegetal, também uma opção futura, em termos nutricionais.

Quando um membro desses "corpos coletivos" é abatido, o corpo como um todo sofre e não há desequilíbrios energéticos drásticos e, consequentemente, a energia que é transmitida a quem consuma essa carne também é menos agressiva do que a carne bovina, suína ou equína, por exemplo.

Se fizermos um paralelo entre os animais pertencentes a um desses grandes "corpos coletivos" e nossa pele, podemos dizer que quando um peixe, por exemplo, é abatido e consumido, equivaleria a retirarmos uma das células da nossa pele.

Quando uma das células é retirada, o corpo pouco se ressente, mas não tente retirar uma grande quantidade dessas células, pois surgirão lesões cutâneas que poderão variar de gravidade. Assim também ocorre com eles.

Por isso temos que cuidar dos desequilíbrios ecológicos que os afetarão e a nós também, enquanto encarnados.

E digo ainda mais. Um desequilíbrio de grandes proporções poderia afetar-nos também aqui noutra dimensão, pois estamos muito próximos da crosta. Mas este é assunto para outra discussão.

- Professor, alguns justificam comer carne com o argumento de que  se fomos criados como carnívoros estaríamos indo contra a natureza, se deixarmos de consumir carne.

- Os seres humanos são onívoros, isto é, possuem organismo apto a consumir quase todo tipo de alimentos, sejam de origem animal, vegetal ou outros.

O consumo de carne, enquanto éramos seres primitivos, tinha sua justificativa, mas não somos mais e, às vésperas de dar outro passo evolutivo, estamos nos atrasando em função disso.

Será que vale o atraso por uma sensação passageira que somente satisfaz o paladar? Estamos na linha de chegada, que apenas não se rompe por essa causa - explicou Derek.

 

- Estamos tão perto assim do limite da evolução?

 

- Sim. Vocês nem imaginam o quanto estamos próximos.

Estamos tão próximos do seguinte estágio quanto está um pedaço de carne para uma pessoa que o leva à boca, isto é, estamos mais próximos do que a pessoa e o naco de carne.

 

- E basta deixar de comer carne para evoluirmos? Seria tão fácil assim?

- Não é tão fácil assim com vocês imaginam, pois se todos deixassem de comer carne de um momento para outro, imediatamente a energia terrestre se transformaria a ponto de não existirem nem mesmo as guerras. As disputas territoriais nada mais são do que instintos animais alimentados por energias animais densas.

- O senhor quer dizer que a carne é culpada pelas guerras e desentendimento entre as pessoas? - Perguntou um dos alunos desencarnados, que não entendeu o raciocínio do professor.

- Não. Não foi isso que eu disse. Acho que respondi de forma incompleta. Acompanhem meu raciocínio.

Os dirigentes de países em guerra são pessoas com senso de territorialidade mais evidente que a maioria das pessoas. Buscam defender seu país a todo custo, como faria um animal que defende seu território. Quais os animais são mais agressivos ao defender seu território? - Perguntou o professor aos alunos.

- Os mais competitivos, os mais fortes, os mais...

O aluno não chegou a completar a sua lista de características que definem um animal que age daquela forma. E o professor interrompe:

 

- Os carnívoros - completou o professor.

 

- Eles são os mais agressivos e atacam os que invadem seu território de caça.

E quanto maior for seu território, maior será a sua abundância de carne e maior será sua agressividade para mantê-lo.

-  Mas por quê? Quis saber ele.

- Por quê? Ora, "a carne nutre a carne".

- O que o senhor quer dizer com isso?

- Que a energia contida na carne, sendo densa, exacerba a ação dos instintos e principalmente os ligados à preservação. Isso torna as pessoas que consomem carnes mais instintivas, isto é, mais animalizadas.

 

A cada pedaço de carne que deixamos de ingerir, nos tornamos menos densos e mais próximos do seguinte estágio evolutivo.

 

Entretanto, a cada naco de despojos sem vida de animais que ingerimos, atamos peso aos nossos pés, que dificulta nosso vôo ao alto da próxima escala evolutiva.

- Professor, se consumíssemos vegetais, ainda assim não estaríamos matando para nos alimenta?

- Não é preciso matar para comer. Um vegetal não precisa ser completamente destruído ou mutilado para nos fornecer alimento de alta qualidade.

 

Eles crescem continuamente e por isso podem nos fornecer alimentos também continuamente, sem que sofram por isso.

Os vegetais são parte de outros corpos coletivos, milhares de vezes maiores que o maior corpo coletivo animal, mas os cuidados com esses corpos são tão importantes quanto os que comentamos anteriormente no que se referia aos animais.

- O senhor acha que um dia todos deixaremos de nos alimentar de carne para nos alimentarmos de vegetais?

- Breve os alimentos de alto valor biológico serão produzidos de forma sintética, sem necessidade de mortes.

 

Serão usadas somente as células que se reproduzirão em laboratório e poderão ser usadas como alimento. Esse tempo não está longe.

 

Pode até não parecer e as pessoas podem não notar, mas a maioria das pessoas que gosta de carne na realidade não a suporta e prefere os vegetais, isto é, seu corpo pede proteínas animais, mas seu espírito pede energias mais leves.

- Como? Acho que o senhor está enganado, pois todas as pessoas que eu conheço e que gostam de carne a comem com vontade.

- Se você tem alguma dúvida, então peça a um comedor de churrasco que mate uma ave, ou um animal qualquer, e consuma suas entranhas, ali mesmo, cruas e quentes pelo sangue fresco, como faria uma fera carnívora.

É provável que tente, mas não creio que consiga ingerir mais que uns poucos gramas, antes que o enjôo e náuseas o atinja.

Peça a um adepto de churrascadas que dê uma dentada em um animal vivo e consuma suas carnes e vísceras enquanto ele se debate, como faria um predador carnívoro da floresta. Duvido que o faça.

No entanto, essa mesma pessoa vai tranquilamente a uma dessas casas de comércio de alimentos de origem animal para escolher uma peça de carne que nem lhe faz lembrar de que se trata de uma parte do músculo de algum bovino assassinado e esquartejado.

Na verdade, as pessoas procuram não pensar que estão ingerindo um cadáver e disfarçam o sabor e a aparência com vegetais, com os quais possuem mais afinidade, sem se darem conta disso.

Quando as pessoas adquirem um pedaço de carne, logo a queimam.

Isso é bom porque é mais higiênico, mas não é só por isso que a queimam.

Ao queimarem a carne, o odor cadavérico e o sabor de um corpo em decomposição desaparecem, restando um odor e sabor de carbono.

Por fim, acrescentam vegetais aromáticos e molhos a base de vegetais, que darão outro sabor ao carvão, tornando-se mais fácil de ingerir. Como acompanhamento, ingerem saladas vegetais.

Se observarem, notarão que o alimento deixou de conter carne, pois, ao ser queimada, tornou-se um aglomerado de carbono, uma vez que a proteína da carne se destruiu com o calor e, a seguir, temperam com vegetais.

Na verdade, estão ingerindo basicamente vegetais, mas um animal foi morto por isso.

Então por que não se retira simplesmente o ingrediente que já não está fazendo tanta falta assim, não é?

O professor parou por alguns segundos, deu um breve suspiro e se desculpou por expressar sua opinião. Normalmente não fazia isso. Apenas passava informações, de forma imparcial.

Um dos alunos ainda queria saber:

- Mas, professor, essa mudança de hábitos precisa ser gradativa, pois, caso contrário, muitos produtores de alimentos à base de carne deixarão de dar empregos a centenas de milhares de pessoas. O desemprego também geraria expectativas que desencadeariam a produção de energias pesadas, prejudiciais à evolução.  Não é isso?

- Nada ocorre de um instante para o outro em nossa evolução. Tudo é gradativo.

Serão necessárias décadas para que o decréscimo do consumo de carne obrigue os produtores a investirem na produção vegetal, mantendo, assim, as ocupações das pessoas.

Se tudo ocorresse muito rápido, não haveria tempo para uma readaptação, o que provocaria um desequilíbrio ecológico e energético no planeta também.

- Professor, em outros mundos também há ingestão de carne por parte dos habitantes?

- Sim, nos mundos inferiores ou iguais ao nosso. Não nos superiores, que se alimentam de vegetais ou mesmo não se alimentam de outro ser vivo.

- Como fazem?

- Absorvem seus nutrientes diretamente da atmosfera ou transformam energias obtidas a partir do sol ou outra fonte luminosa celeste que possuem.

Seus corpos, nesses mundos, são tão leves e sutis que suas necessidades nutricionais e energéticas são mínimas.

Quando ingerem algo, se necessário, são líquidos levíssimos que não nos satisfariam, mas a eles sim.

Em escala evolutiva, esses seres, que também são humanos, estão apenas dois graus acima de nós.

É muito pouco, mas falta-nos, ao mesmo tempo, tanto para alcançá-los.

Outro aluno se manifestou, inconformado com o fato de um local que deveria ensinar com seu exemplo não fazer o que deveríamos. Ao contrário, incentivava as pessoas ao consumo de carne e à matança de animais.

O professor tentou explicar que não podemos exigir das pessoas o que elas ainda não possuem e disse que, se quiséssemos mudar alguém, devemos influenciar não com palavras, mas com exemplos e atitudes.

- Professor - chamou Marli - como é a frequência energética dos espíritos que visitam locais em que se festeja com carne regada a bebidas alcoólicas?

Antes que o professor respondesse, um dos alunos acrescentou:

- Em uma das aulas dos ciclos anteriores, visitamos um matadouro de bovinos e o restaurante do local que servia carne. Seria diferente do que encontramos ali, isto é, uma casa que pretende ser um refúgio espiritual permitiria a entrada de espíritos trevosos, mesmo tendo intenções nobres?

- Independentemente de ser um local de refúgio espiritual ou não, o encontro de energias densas reunidas em um mesmo local sem dúvida é um atrativo.

Não acredite que as pessoas estão apenas consumindo carne e ingerindo álcool em uma destas festas de "caridade" para darem sua contribuição às cestas de alimento, pois se assim fosse apenas doariam o que suas consciências pedissem e não consumiriam o que lhes fosse oferecido.

Se estiverem ali ingerindo álcool e consumindo energias cadavéricas, é porque sentem necessidade desse tipo de energia por sintonizarem com ela.

Com isso, surgem aqueles que não foram convidados, mas que com certeza não faltariam.

São os mesmos que os senhores conheceram no matadouro: os seres trevosos.

 

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