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    O Inevitável Despertar - Apostila 8

    O Inevitável Despertar - Apostila 8

     

     

    O Que as Crises nos Anunciam - I

     

    Depois dos comentários generalizados que apresentamos na apostila 07, podemos voltar aos magníficos apontamentos do Dr. Roberto Assagioli e R.D.Laing, como parte que fazem do livro Emergência Espiritual.

    Para validar nossos cuidados relacionados à incessante busca que tornem menos misteriosas as razões da vida, citaremos uma nota do dr. Adolfo Bezerra de Menezes, médico, outro gigante que, quando na Terra, pugnou pela saúde mental de seus contemporâneos, e agora, na espiritualidade, continua o mesmo apóstolo de amor ao próximo.

    A nota que citaremos está no livro de sua autoria, por título A Loucura sob novo Prisma, capítulo I, página 14, escrito ao tempo em que ele ainda estava entre os encarnados, portanto, antes do ano de 1900, quando desencarnou.  

     

    Seu expressivo pensamento diz:

     

    “Se o homem é meteoro, que brilha por um momento e some-se, para sempre, no turbilhão universal, por que contrariar seus gostos, suas inclinações, suas paixões, por mais selvagens que sejam, uma vez que ali está o nada, em que vai desaparecer.  Se porém, é imortal, é livre e, conseguintemente, responsável, quanto não lucrará em conhecer-se a si mesmo, para prevenir-se contra futuras tempestades?”

     

    Conforme se constata consigo próprio, e a razão recusa aceitar outra forma, o homem não é um meteoro a brilhar por alguns instantes para, a seguir, desaparecer.  Antes disso, é uma estrela fixa no cosmo da eternidade.  Existirá para sempre, tão logo tenha sido criado.

    Esta constatação justifica plenamente nossos cuidados em tornar menos obscuras as questões que envolvem a mente, em particular os processos de estados alterados de consciência.

    Reprisando uma das figuras da apostila 07, demonstra-se com ela a existência de três níveis imediatos de ação mental, nos quais o Ser poderá se expressar.

     

     

    Isto vem de significar que, no mínimo, três níveis de estados diferenciados de realidade, ou dimensões, estão muito próximos entre si.  Quais sejam: o nível Físico, o Astral e o Mental.

    Dada a interligação existente entre esses níveis, que é o componente psíquico do indivíduo, os mesmos não estão isolados uns dos outros.  Mediante algum estímulo, como falamos nas apostilas 02, 03 e 05, sinais exclusivos do nível mental, ou do astral, poderão se tornar sensíveis ao nível físico.

    Essa insurgência ao nível físico é chamada de Estado Alterado de Consciência.  Ou seja, percepção de uma dimensão além daquela em que o estado de consciência no momento predomine.  Ou ainda, uma superposição de percepções.   Isto  é o EAC, um fato digno de pesquisa, pois acontece na humanidade inteira.

    Vejamos, então, suas mais severas implicações, utilizando-nos da ótica de Assagioli e Laing.

     

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    A vida nos ensina que num dia claro, e ensolarado, quando as nuvens começam a se acumular formando blocos maciços, isto é sinal de que grande tempestade ameaça romper o aprazível dia.  Diante dessa mudança atmosférica as pessoas se agitam e correm para se protegerem do aguaceiro iminente.

     

     

    Psiquicamente falando, também é de forma análoga que ocorrem as fases do despertar da consciência.  Primeiro um estado de vida calmo e controlado.  Depois, algumas atitudes inusitadas, incomuns, confundem o comportamento do indivíduo.   Destas, ele passa a descontroles mais exagerados.  É a tempestade que cai.

     

     

    São esses acontecimentos, chamados de crises iniciais, que anunciam que uma tempestade está prestes a cair, avisando ao indivíduo para, imediatamente, procurar abrigo seguro.

    Descrevendo esse fato Assagioli ensina que, “Para melhor entender as experiências que costumam preceder o despertar, devemos examinar algumas das características psicológicas do ser humano ‘normal’.” 

    Nesta expressão ressalta uma curiosidade.  Assagioli usa a palavra normal colocando-a entre aspas.  Esse procedimento dá a entender que tal terminologia é apenas subjetiva, e não uma característica que determine padrões invioláveis.  Paradigmas.  Na forma como ele escreveu, se torna um questionamento:  “normal, o que é ser normal?

    Porém, como não existem padrões genéricos de normalidade comportamental, pois o que possa parecer esquisito e inaceitável a uma pessoa, poderá ser inteiramente aceito por outra, o autor, ele mesmo, seguindo o raciocínio insere sua visão, dizendo que, o que chamam de um Ser normal, “dele, pode-se dizer que “deixa-se viver”, em vez de viver.   Toma a vida como ela vem e não questiona o seu significado, o seu propósito; (...)”

     

    É aquela pessoa que na gíria popular chamam de “desligada”

    Está no mundo só para passar o tempo. 

    Desde que seus desejos sejam atendidos, não há com que se preocupar.

     

    Vivendo essa forma conceitual, dito indivíduo, “normal”, pode ainda, “se for mais maduro, subordinar as satisfações pessoais ao cumprimento dos vários deveres sociais e familiares que lhe são atribuídos, mas sem procurar entender as bases em que esses deveres se apóiam ou a sua fonte.”  (Assagioli)  

     

    Esta condição mostra que o indivíduo até cumpre com seus deveres, sem, contudo, dar importância ao que eles significam.  Seria como dizer:  “Cumpro minha parte, e pronto !, nada mais me interessa.”   Uma espécie de automatismo para com a vida.  Sem querer menosprezar ninguém, poderíamos dizer que seria um animal melhorado, vivendo, apenas, dos instintos.

    Mas ainda tem aqueles outros casos em que “(...) se considera ‘religioso’ e crente em Deus, mas em geral sua religião é exterior e convencional (...)”  

    Isto é, vive a superficialidade do culto.  Freqüenta as cerimônias porque assim foi educado desde a infância e porque é comum onde reside, não que uma força interior a isso o inspire.

    Como vemos, os parâmetros acima traçam o perfil do ser humano “normal”.  Qual seja, não quer saber as razões da vida; cumpre exclusivamente seus deveres sem nenhum entusiasmo por conhecer as motivações da mesma, e acha que está bom demais; por religião tem só o hábito de freqüentar cultos devocionais, de preferência em horários que não impeçam seus divertimentos, que são muitos.

    Enganam-se, porém, aqueles que pensam que essa forma de viver perdura por toda vida.   Se assim acontece, o é só por uma etapa, e essa etapa pode ser comparada ao período de um dia ensolarado, como figuramos acima.  Todavia, as nuvens da responsabilidade para a vida como um todo estão se juntando, sem que o “desligado” perceba. 

    Então, “(...) pode ocorrer de esse ‘homem normal’ ser surpreendido e perturbado por uma mudança – súbita e gradual – de sua vida interior.”   É  tempestade que se avizinha.  Essa mudança, como diz Assagioli, “pode acontecer depois de uma série de desilusões (...)”  tais como  “(...) choque emocional, como a perda de um ente querido (...)”  perda de um importante emprego que lhe abale a vida social, etc, acrescentamos  nós.

    Esse acontecimento que abala o indivíduo a ponto de provocar-lhe uma alteração na forma de pensar a vida, significa que apesar daquele ar de desinteresse pelas motivações da existência, não está isento de, num determinado momento, ressoar no interior dele uma voz candente, despertando-lhe a visão para o lado oculto dessa mesma existência.

     

     

    Esse momento, como as chuvas que se formam, não tem data marcada para acontecer.  Pode ser, como diz Assagioli, a começar de um choque emocional, como na maioria dos casos acontece.

    A história nos conta o exemplo do acontecido a Michel de Nostradamus, que viveu entre os anos de 1503 a 1566.  Sua vida passou por uma reviravolta após o choque emocional provocado pela morte da esposa e filhos, mergulhando-o, ainda mais, numa vida mística e de vidente.   Famoso, até hoje, por sua predições.

    Seria esta uma modalidade de manifestar-se a alteração.  Mas não a única, deixemos bem claro.  Das variações, dita Assagioli:  “(...) por vezes se manifesta sem causa aparente e no pleno gozo da saúde e da prosperidade (...)”,  mas que apesar disso a pessoa mostra “(...) uma crescente sensação de insatisfação, de carência, de ‘alguma coisa que falta’ – algo vago e fugidio que a pessoa não consegue descrever.”

    Esta última descrição é bem comum, e acreditamos que quase todas as pessoas já passaram por momentos como este, mesmo que não o tenham sido de despertamento consciencial.   Um vazio indescritível.  Mesmo que vivendo no fausto, nada disso preenche a vida do indivíduo, que, comumente, confunde essa sensação com o sentimento de saudade.   Mas, saudade de quê?!, é o intrigante questionamento que faz a si mesmo.   Será aquela saudade da Fonte, sobre a qual dissertamos na apostila 04 desta série ?  Por certo que sim, pois que a destinação cósmica da Criatura é a ascensão espiritual, é a universalidade das dimensões existenciais, e não somente o viver nesta terceira dimensão.   Por universalidade das dimensões queremos dizer:  Por sua vontade, estar, conscientemente, em qualquer uma delas, no momento que lhe for mais conveniente e coerente com algo a cumprir.  Isto é, verdadeiramente, ser uma Criatura Cósmica.

    Por ser essa a destinação, um indescritível chamado, do qual falamos na apostila 07, “grita” no peito daquele indivíduo.  (Figura 08C).   Ele ouve a “voz” que o chama, mas não decifra o que ela diz e nem localiza de onde ela vem.  São mesmo como as nuvens que daquele momento em diante começam a se juntar.  Ninguém vê, nem sabe de onde elas vêm.  De repente, porém, elas estão ali, ameaçadoras, trovejando sobre a região.

    Assim surge a inquietação que pode se iniciar discreta, quase imperceptível, quanto, também, explosiva e avassaladora.     O fato é que após esse início nada mais refreia sua expansão.  Nada mais detém a inquietação, mesmo que, repetimos, a pessoa esteja cercada de abastança dos bens materiais.   Estes, apesar de toda a fartura, não lhe preenchem o vazio interior.

     

     

    Dentro de si, é um “buraco”, e se sente um “nada” no “nada”.    O quê É, e  para onde está indo?, não sabe responder.

    Diante dessa instabilidade, Laing lança alguma luz:   “Devemos nos lembrar de que vivemos numa época em que o terreno está se movendo e as fundações estão sendo abaladas.” Uma espécie de areia movediça na qual quanto mais aflitivamente se agita mais se afunda, mais se sente perdido.  “(...)  Nessas circunstâncias, todos temos razões para estar inseguros.  Quando a base do nosso mundo está em questão, corremos para diferentes orifícios no solo, apegando-nos a papéis, posições, identidades, relações interpessoais. (...)”  (Página 71)

    Não resta dúvida que é um momento de desesperação causado pela ruína do mundo interior da pessoa.   Antes, conceituava tudo como encerrado unicamente no parâmetro despreocupação, encarando a vida como uma brincadeira.   Como a vida não é uma brincadeira, ao deparar com a realidade de si mesmo, as fundações se abalam. 

    Frustrada e infeliz corre de um lado para outro tentando encontrar substitutos para o que conceitua como perdas.  Todavia, procurando com essa intenção só encontra outras irrealidades, até que, esgotada, vislumbra algum significado duradouro.

    Esclarece Assagioli que a esse estado de desespero acrescenta-se,  “gradualmente, um sentido de irrealidade e de vazio com relação à vida cotidiana.  Assuntos pessoais, que antes absorviam tanto a atenção e o interesse, parecem recuar, em termos psicológicos, para segundo plano; (...)”    É o princípio do “nada”, temporariamente, se avizinhando.  “(...) Surgem novos problemas.  A pessoa começa a procurar a origem e o propósito da vida (...) a questionar, por exemplo, o sentido do sofrimento pessoal e alheio, e da justificativa possível para tantas desigualdades no destino dos homens.”   Atingindo esse nível de percepção significa que o “nada” começa a dar sinais de que está cedendo.

    Pois bem, mas tudo isso fervilha pela mente em desalinho daquela pessoa em vias de despertamento.  Ela se torna  introspectiva.  Não mais corre de um lado para o outro, tentando esconder-se de si mesma.  Embora ainda viva desconfiada, afinal, um mundo em ruínas não é pouca coisa, embora isso, uma nova visão de vida começa a delinear-se.

    Começa a perceber dimensões do próprio mundo físico que antes não lhe detinha a atenção.  Intrigada com este aparente mundo novo, pergunta:  “o quê acontecia antes que eu não via esses acontecimentos ?”

    Perguntas, perguntas e mais perguntas confundem sua mente.  “Quando chegou a esse ponto,”  comenta Assagioli,  “a pessoa pode entender e interpretar erroneamente a sua condição. (...)  Alarmados com a possibilidade de desequilíbrio mental, esforçam-se por combatê-los de várias formas, fazendo frenéticos esforços para recuperarem a ligação com a ‘realidade’ da vida cotidiana, que parece fugir-lhes.”  (Grifo nosso)

     

     

    O realismo da descrição de Assagioli pode ser comparado à figuração acima, onde a pessoa, se sentindo um náufrago, debate-se desesperada contra as ondas que, segundo ela supõe, querem tragá-la.  Portanto, não é de se estranhar o fato de uma pessoa julgar-se em desequilibro mental quando essa transmutação interior começa a se tornar insistente.  Afinal, os fatos novos tendem a afastá-la das atrações anteriores.   Afastá-la de seu mundo.   Isto, para qualquer pessoa é desconcertante.   Assustador.

    Assustada, mas não sem razão para isso, concentra seus esforços na tentativa de manter vívida a realidade que antes a monopolizava, e lhe era bastante agradável. 

    Essa desconfiança em relação à sua integridade mental, e o medo de perdê-la, faz com que “(...) se atire, com ardor crescente, numa girândola de atividades externas, buscando novas ocupações, novos estímulos e novas sensações.  Por esses e outros meios podem conseguir, por algum tempo, aliviar a sua perturbação, mas não podem livrar-se dela permanentemente.”   (Grifos nossos).

    Por algum tempo, diz Assagioli, consegue-se palidamente tornar colorido o cinzento da atmosfera que o cerca, mas só por algum tempo, pois esse chamado, e a saudade que sente da Fonte, são inexoráveis para qualquer indivíduo.   Iniciado o processo de despertamento consciencial, nada mais detém seu prosseguimento.

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    (Nota:  Todos os trechos de Assagioli citados nesta apostila, estão contidos nas  páginas 52 e 53 do livro Emergência Espiritual, editado pela Editora Cultrix)

     

     Bibliografia:
     André Luiz/Francisco Cândido Xavier  Evolução em Dois Mundos – página 39   Federação Espírita Brasileira
     André Luiz/Francisco Cândido Xavier   No Mundo Maior  -  páginas 45, 54 e 58  Federação Espírita Brasileira
     Edith Fiore       Possessão Espiritual    Editora Pensamento
     Eliezer C. Mendes         Psicotranse      Editora Pensamento
     Emmanuel/Francisco Cândido Xavier   Pão Nosso – capítulo 111    Federação Espírita Brasileira
     Enciclopédia Barsa     Volume 15, página 73     Encyclopaedia Britannica
     Itzhak Bentov      À Espreita do Pêndulo Cósmico  Editora Cultrix
     Leopoldo Balduino  Psiquiatria e Mediunismo – página 201  Federação Espírita Brasileira
     Manoel Ph. Miranda/Divaldo P Franco  Painéis da Obsessão – Prefácio  Livraria Espírita Alvorada Editora
     Roberto Assagioli      Psicossíntese    Editora Cultrix
     Stanislav Grof e Christina Grof    Emergência Espiritual   Editora Cultrix
     Vivências   Apostila 13 da série Reconstrução e 37 e 52 da série Mediunidade  

       

    Apostila escrita por

    LUIZ ANTONIO BRASIL

    Julho de 1997

    Revisão em Dezembro de 2005

    Distribuição gratuita citando a fonte

     

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